A disparada do dólar, que atingiu na terça-feira (23) a maior cotação desde a criação do Plano Real, agravou ainda mais a situação financeira da Petrobras. Desde junho, a estatal já contabilizou uma alta de cerca de 100 bilhões de reais nas dívidas em moeda estrangeira. Diante do novo patamar do dólar, o endividamento da petroleira pode atingir 513 bilhões de reais ao final de setembro, cifra equivalente a 9,4% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2014.
As estimativas foram feitas pela consultoria Economática, e considera a cotação de 4,04 reais para a moeda americana. Nesta terça, diante das incertezas sobre os rumos da política econômica brasileira, o dólar comercial fechou a 4,05 reais.
Com mais de 70% de sua dívida em moeda estrangeira, a estatal é extremamente vulnerável à variação cambial. A reação dos mercados, na terça, foi imediata. As ações da Petrobras amargaram os menores preços desde 2004, fechando o pregão na Bovespa com queda de 3,13% nas ações ordinárias e de 4,52% nas preferenciais.
As projeções sobre o endividamento da estatal consideram a manutenção da moeda americana no patamar médio de 4,04 reais durante o terceiro trimestre do ano. Nesse caso, a dívida em dólar chegaria a 442,3 bilhões de reais – uma alta de 28% em relação ao último trimestre, quando a estatal contabilizou em seu balanço financeiro uma cotação média do dólar de 3,10 reais.
Ingerência política – Confirmadas as estimativas, o endividamento da petroleira acumulará alta de 723% desde dezembro de 2010. Segundo analistas, a explosão da dívida no período decorre da ingerência política na estatal que, para conter a inflação, segurou o reajuste dos combustíveis. Entre 2011 e o meados de 2014, enquanto o consumo de gasolina e diesel crescia e o preço internacional do petróleo subia, a Petrobras era obrigada a importar combustíveis para atender o mercado interno, mas os revendia aqui por um preço mais barato, absorvendo a diferença. Para manter os investimentos, a estatal recorreu ao crédito externo.
A empresa negou, reiteradas vezes, a opção por um novo aumento de capital e venda de ações. A medida também divide opiniões. “Investidores privados teriam muito receio de colocar mais recursos na empresa com esse histórico de ingerência, corrupção e endividamento. E como um governo endividado, com uma situação fiscal delicada, vai colocar dinheiro?”, questiona Walter De Vitto, da consultoria Tendências.
Para ele, a alta do dólar pressiona a empresa a adotar uma política mais clara de reajustes, com efetiva paridade com os preços internacionais. Dessa forma, ela poderia ampliar suas receitas com a exportação de combustíveis. “Não levar a cabo a paridade de preços é uma medida suicida nesse momento. Caso haja o compromisso de elevar preços de diesel e gasolina, a alta do dólar se anularia com a melhora das receitas”, avalia.
A Petrobras poderia ter amargado números ainda piores de endividamento, não fosse a decisão de adotar “hedge” – operação financeira que “protege” o resultado das companhias diante da variação cambial. Como desde maio de 2013 a moeda norte-americana está em trajetória de alta, esse tipo de proteção foi adotada para evitar maiores despesas financeiras. Segundo a empresa, cerca de 70% das dívidas em moeda estrangeiras são protegidas.
“Se uma empresa não adota alguma estratégia, o dólar em alta gera uma despesa de variação cambial”, destaca o coordenador do Grupo de Estudos em Direito e Contabilidade da FGV-SP, Edison Fernandes.
(Com Estadão Conteúdo)
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